Mirror

Se de manhã as pessoas acordam a um ritmo vagaroso e sonolento de tarde assistimos a uma corrida desenfreada atrás do tempo, tempo este que nos rouba anos de vida, que nos dá cabelos brancos e que nos torna encarregues de termos uma ancora durante as nossas vidas. Mas um dia a ancora quebra-se, o tempo pára e o mundo cai como um baralho de cartas e depois o que nos resta? Uma ancora partida em mil pedaços e um caminho até então traçado e construído largado no tempo! De que nos servem as ancoras se apenas nos prendem à vida de forma obrigatória e correcta! Será o correcto o caminho mais viável para uma vida livre, construída com o apoio de muitas outras ancoras que nos prendem não a uma vida destinada, mas a um caminho de opções! " O tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem" lenga- lenga esta que dizemos repetidamente enquanto crianças, quando crescemos apercebemo-nos de que o tempo não tem tempo, o tempo é simplesmente dono de si e de tudo o que nos rodeia, tudo tem um tempo, agora depende de nós o que fazer com este tempo!

O mundo de dia para dia renova-se com o nascimento de uma criança, quer seja um novo ser humano quer seja uma pessoa a relembrar a sua infância, todos nós continuamos a ser crianças, continuam as vontades, a inocência, a pureza, a felicidade plena tudo isto continua dentro de nós , só que com uma pincelada cinzenta e pesada sobre a nossa antiga tela colorida. Não estou a dramatizar a vida, nem as consequências que ela acarreta com a idade, mas sim a afirmar que esta se torna aborrecida se não fizermos nada para corrigir esta situação.

Todos podem admitir que são felizes, mas se perguntar-mos o que é que fazem para serem felizes, ningúem sabe dizer o quê! Resumindo: as pessoas falam mas não fazem nada por isto, deixam-se ficar por uma felicidade estável! Será esta a felicidade que procuramos toda a nossa vida?

Com isto não estou a afirmar que sou uma pessoa que é completamente feliz, mas os pequenos momentos em que me sinto realmente feliz é capaz de valer por uma vida de felicidade estável! Adrenalina, intensidade, loucura três condimentos essenciais para um pequeno momento de felicidade eterna!

Ao deambular pela cidade, numa manhã de quinta-feira, ainda sob influência do resto da noite interrompida pelo despertador, os meus olhos vão-se abrindo gradualmente dando os primeiros sinais de aviso ao cérebro. Mensagem: acorda! Na cidade , de manhã, as pessoas movem-se a um ritmo sonolento e vagaroso, o cheiro a café invade o sentido olfactivo , todos caminham para as suas rotinas, rotinas estas que há muito lhe tiraram o sorriso do rosto! Se sou uma fora da lei?! Gosto de pensar que sim, gosto de desafiar a naturalidade das coisas, as rotinas não são naturais são impostas pelo homem para que este se acomode na sua inútil vida, e depois reclamam que cairam na rotina. No fundo deixam-se vencer pelo hábito, ou melhor, deixam-se vencer pelo caminho mais fácil, um que agrade a todos e não custe muito a cumprir. Um pacto com o comum!

De manhã, apesar de sonolenta e perdida no mundo encantado dos sonhos, apercebi-me da natureza das pessoas, a maldade, a inveja, a arrogância presentes no olhar de cada uma das pessoas que partilharam o mesmo auto-carro do que eu, no fundo estas pessoas não passam de seres frustrados dentro e consigo prórpios, não passam de humanos que há muito deixaram de viver para si e dedicaram-se a apontar o dedo aos outros. Hoje , nos meus míseros vinte anos de existência, acordei para a realidade suja, porca e muito impessoal que se tornou a nossa sociedade. De manhã ao apagarem-se as luzes que pernoitam sozinhas nas ruas acende-se o pior lado do ser humano.